A **microbiota intestinal** desempenha um papel crucial não só no eixo intestino-cérebro, modulando funções cerebrais e comportamentais, mas também no desenvolvimento e funcionamento do eixo **hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA)**, que regula a resposta ao estresse. Esse eixo é essencial para prevenir transtornos de humor e ansiedade, incluindo a depressão. Além disso, a microbiota intestinal exerce uma influência significativa sobre o sistema imunológico, o que pode explicar a conexão entre disfunções imunológicas e transtornos mentais, como depressão e esquizofrenia. A microbiota também contribui para a síntese de neurotransmissores importantes, como **serotonina, noradrenalina e dopamina**, que são frequentemente chamados de "hormônios do bem-estar".
Dado seu papel na **manutenção da saúde mental**, a microbiota intestinal ajuda a regular funções cerebrais e comportamentos que afetam o humor e a cognição. Em contraste, desequilíbrios na microbiota estão associados a um risco aumentado de transtornos do neurodesenvolvimento, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o transtorno do espectro autista (TEA), bem como doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.
Diversos fatores podem alterar a composição da microbiota intestinal, incluindo **genética, estado de saúde, uso de antibióticos e hábitos alimentares**. Pessoas que sofrem de ansiedade, estresse e transtornos mentais como depressão frequentemente apresentam alterações na composição da microbiota intestinal, com uma predominância de micro-organismos não benéficos e uma menor diversidade microbiana. Evidências sugerem que pacientes com depressão possuem uma microbiota intestinal significativamente diferente em comparação com indivíduos saudáveis. A introdução de **probióticos, prebióticos** e mudanças alimentares têm demonstrado ser úteis na redução de comportamentos de estresse e ansiedade e na melhora do humor, aumentando a população de bactérias intestinais benéficas.
### Práticas Alimentares para a Saúde Intestinal e Mental
Considerando o impacto da alimentação na composição e função da microbiota intestinal, algumas práticas alimentares podem contribuir para a saúde intestinal e mental:
1. **Aumentar a ingestão de alimentos fermentados**: Estes são boas fontes de probióticos, contendo culturas de bactérias vivas que beneficiam o intestino. Exemplos incluem kombucha, kefir, iogurte, leite fermentado, chucrute, kimchi, picles, missô, natto, tempeh e vinagre de maçã não pasteurizado.
2. **Consumir alimentos ricos em prebióticos**: Estes alimentos estimulam o crescimento de bactérias benéficas no intestino. Exemplos incluem alho-poró, cebola, alho, chicória, banana, aspargos, cereais integrais e leguminosas.
3. **Evitar alimentos ultraprocessados**: Esses alimentos são ricos em açúcares, gorduras e aditivos que podem prejudicar a microbiota intestinal.
Adotar essas práticas pode promover uma microbiota intestinal saudável, que é fundamental tanto para a saúde mental quanto para o bem-estar geral.
Fonte:
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